> 05/05/2013 – domingo – youm al-hadd

Nosso circuito para o Marrocos partiu do Hotel AC Málaga Palácio.

Partimos com destino a Algeciras, à 160 km de Málaga, acompanhados pela guia Imaculada e pelo motorista Paco, que nos acompanharia nos 7 dias do tour.

Algeciras é uma cidade portuária do sul da Espanha, na Província de Cádiz, comunidade autônoma de Andaluzia, próxima à Gibraltar, território britânico ultramarino.

O porto de Algeciras é o 24º mais movimentado do mundo, o 5º da Europa e o 1º do Mar Mediterrâneo e da Espanha, com bastante tráfego ‘de’ e ‘para’ África, com serviço regular de ferry-boats, em, aproximadamente, 60 minutos.

Cruzamos, então, o Estreito de Gibraltar de Algeciras para Ceuta, cidade espanhola, no continente africano.

O Estreito de Gibraltar é a única abertura entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico, com largura mínima de 14,4 km e profundidade que varia de 280 a 1000 m.

Embarcamos no Puerto Bahia de Algeciras, num fast ferry, às 10:30 horas, num percurso de 1 hora.

Nosso grupo era de 48 pessoas entre americanos, australianos, argentinos, dominicanos, mexicanos e brasileiros.

Contratamos este tour através da Juliá Travel, Plaza de España, 7 – Madri, tendo tratado todos os detalhes por e-mail com Alicia Mencia.

amencia@juliatravel.com

www.juliatravel.com

A partir de nossa chegada a Ceuta, assumiu o grupo a Mundimaroc e o guia Alami.

www.mundimaroc.com

Passamos pelas fronteiras espanhola e marroquina. E estávamos no Marrocos !!!

Salamaleicom !

Olá ! (saudação)

O Marrocos é o mais ocidental dos países da África do Norte, limitado ao norte pelo Estreito de Gibraltar e o Mar Mediterrâneo, ao sul pela Mauritânia, a este pela Argélia e a oeste pelo Atlântico.

O país tem 2.800 km de litoral atlântico e 530 km de litoral voltado para o Mediterrâneo.

O litoral norte é separado do resto do Marrocos pelas Montanhas do Rif, uma extensão da cordilheira do sul da Espanha. Região tradicionalmente isolada e desfavorecida, habitada sobretudo por populações berberes, 60%. Os restantes 40% são árabes.

Sendo um país de zona subtropical, está submetido no verão às condições das zonas quentes e no inverno goza de um clima temperado, fresco e úmido. Nas províncias do sul do país predomina o clima desértico.

Rabat é a capital do Reino do Marrocos, uma Monarquia Constitucional, Democrática e Social, das mais tradicionais do mundo, o que garante a união do país e a liberdade dos cidadãos.

O Islã é a religião da maioria absoluta da população marroquina (98%), mas o Estado garante a todos o livre exercício dos cultos.

Os muçulmanos seguem o Corão, que acreditam ser a palavra direta de Alá recebida pelo Profeta Maomé e nos ‘Cinco Pilares’ do Islã:

. a confirmação de que existe apenas Alá e Maomé como seu mensageiro (Shahaada)

. em orar cinco vezes ao dia, voltado para a Caaba em Meca, na Arábia Saudita (Salaat)

. no jejum durante o Ramadã, que celebra a revelação do Corão a Maomé (Soum)

. em dar esmola aos pobres (Zakaat)

. em fazer uma peregrinação a Meca (Hajj).

Hamdu Lillah

‘Alá seja louvado’

Os berberes mantém alguns de seus antigos costumes pagãos, particularmente, um grande número de ‘marabouts’ (santuários para homens santos).

Diz um provérbio berbere: ‘É bom conhecer a verdade, mas é melhor ainda conhecer e falar sobre as palmeiras.’

A tradição diz que a tamareira, um tipo de palmeira, se originou no Jardim do Éden, quando uma árvore com frutos maduros surgiu no ponto onde Adão havia acabado de cortar as unhas e o cabelo. O Arcanjo Gabriel surgiu de trás da árvore e disse a Adão que aquele seria seu alimento. Quando Adão teve que abandonar o jardim, levou a árvore com ele.

Quando Moisés liderou a fuga dos judeus do Egito, eles estavam com fome e sede, quando encontraram um bosque de tamareiras em Elim. A Bíblia também fala da beleza, da mitologia e da utilidade das tamareiras.

Fato é que o país tem uma ampla variedade de palmeiras, mas a tamareira é a mais importante: as tâmaras são ingredientes chave na dieta marroquina, as flores são um popular afrodisíaco, o tronco e as folhas são usados na construção, a seiva produz uma bebida inebriante, as fibras são usadas em cordas, além de proteger o solo contra a erosão pelo vento do deserto e o sol escaldante.

Os marroquinos comem em mesas baixas, redondas, sentados em almofadas ou sofás. Primeiro é trazida uma tigela de água perfumada com flor de laranjeira ou essência de rosas para se lavar as mãos. Usa-se apenas a mão direita para comer e a comida é retirada com auxílio de um naco de pão de uma travessa central. Considera-se educado deixar um pouco de comida, assim como arrotar, para mostrar que se comeu bem. Deve-se falar pouco ao comer, evitar assuntos delicados ou excitantes, que possam tirar a concentração dos prazeres da mesa. Após a refeição, um chá digestivo de hortelã, servido com doces de mel e amêndoas.

ras el hanout – mistura de 27 temperos, entre eles cardamomo, macis, galanga, pimenta-da-áfrica, pimentão, cantárida, canela, pimenta, cravo, curcuma, gengibre cinza e branco, raiz de oris, pimenta-do-reino, lavanda, botões de rosa, sorveira, beladona, erva-doce, frutos de asclepiadácea, gouza el asnab, cubeba e alecrim-de-angola.

O Marrocos tem uma história antiga e muito rica. Os primeiros habitantes identificados foram os berberes, cujas origens e história não são bem conhecidos, mas se acredita sejam originários da Ásia Central.

Estas tribos eram chamadas pelos romanos de ‘bárbaros’, origem de ‘berberes’, mas eles preferem ser chamados de ‘amazigh’ e se consideram primeiro berberes e depois marroquinos.

O berbere é a segunda língua mais falada do país depois do árabe e considerada a mais antiga do Norte da África, escrita há mais de 3 mil anos, embora a maioria dos berberes hoje não a escreva, pois era proibida e as escolas ensinavam em árabe e francês.

A invasão mais influente foi a dos árabes, que vieram da Península Arábica, no final do século VII, conquistaram o Marrocos e converteram os berberes ao islamismo.

Conta-se que quando o líder militar árabe Oqba ben Nafi alcançou a costa atlântica em Massa, ele avançou com seu cavalo mar adentro e declarou que Deus era testemunha de que o oceano era a única coisa que podia deter a conquista.

Do Marrocos, os árabes partiram para conquistar a Espanha.

Mais tarde, vieram europeus, atraídos pelas riquezas do país e por sua posição estratégica.

Assim como no Brasil, os portugueses colonizaram o Marrocos ou parte dele.

Foi no norte do Marrocos que os portugueses sofreram a mais catastrófica derrota militar de sua história, em Alcácer-Quibir, em 1578, na batalha dos Três Reis, quando foi morto o Rei Dom Sebastião, passando o país a ser governado pela monarquia espanhola, tendo sido criado o mito do ‘sebastianismo’, de crença na volta do monarca, cujo corpo não foi encontrado depois da luta.

Quando, em 1610, o rei católico Filipe III expulsou todos os muçulmanos e judeus da Espanha, muitos deles vieram para o Marrocos. Alguns eram artesãos e retomaram o trabalho, mas outros, como vingança, se tornaram piratas e corsários.

A pirataria prosseguiu no Marrocos até este ser bombardeado pela Áustria, como represália pela perda de um de seus navios, quando Rabat e outros assentamentos do litoral foram seriamente danificados em 1829.

Em 1912, o Marrocos foi conduzido a assinar o Tratado do Protetorado e o país foi dividido em três regiões administrativas. A Espanha assumiu o controle das regiões norte e sul, Tanger foi submetida a um estatuto internacional que durou até 1923 e o restante do país ficou sob o controle da administração francesa.

Não tardou muito para que os marroquinos se levantassem contra os colonizadores estrangeiros. O movimento da resistência intensificou suas ações principalmente depois da segunda guerra mundial. Para desestabilizá-lo, a França decidiu exilar a família real na Ilha de Madagascar.

Em 1955, conhecida pelo nome de ‘A revolução do Rei e do Povo’, culminou com o retorno de Sua Majestade, o Rei Mohammed V, de seu exílio e a proclamação da independência em 1956.

Com a proclamação da independência, o Marrocos dava início à edificação de um Estado moderno. Este renascimento, iniciado com o Rei Mohammed V, conheceria seu apogeu durante o reinado de Sua Majestade o Rei Hassan II, que reinou por 38 anos, a partir de 1961.

Graças à genialidade e grandiosidade do falecido soberano, o Marrocos pode realizar obras suntuosas que contribuíram para o desenvolvimento e a modernização do país.

Os esforços direcionados à reunificação e integridade territorial do país prosseguiram e culminaram com a recuperação da província de Tarfaya, em 1958, de Sidi Ifni, em 1969, e, por fim, com a organização da gloriosa Marcha Verde que possibilitou a liberação pacífica do Saara Marroquino da ocupação espanhola em 1975.

Em qualquer lugar que se entre, o Rei Mohammed VI está presente. Filho de Hassan II, integrante mais jovem da dinastia alauí, está no poder temporal e espiritual marroquino, suposto descendente direto de Fátima (filha de Maomé), PhD na França, responsável por muitas das reformas modernizadoras do Marrocos.

O escritor anglo-afegão Tahir Shah, no livro ‘Nas Noites Árabes’, Roça Nova Editora, repassa uma dica para os turistas não serem incomodados por vendedores nas ruas do Marrocos: carregue uma peneira, do tamanho de um prato. Esta dica ele teria recebido de uma criada marroquina e, para ser bem sincera, eu não a testei.

Outra curiosidade revelada por ele é acerca do hábito de se passar mel nas portas das casas para espantar os maus espíritos, os ‘dijins’.

Os ‘dijins’ estão presentes em muitos dos contos do mais famoso livro da cultura árabe: “As Mil e Uma Noites’.

A decorativa ‘Mão de Fátima’ é símbolo de boa sorte. É um talismã com a aparência da palma da mão com cinco dedos, usada  por praticantes do judaísmo e do islã como amuleto contra mau-olhado. Também conhecida como hamsá, chamsá, mão de Deus, olho de Fátima, mão de Miriam ou mão de Hamesh. Associada aos cinco pilares do Corão e aos cinco livros da Torá.

. Fátima, filha preferida de Maomé

. Miriam, irmã de Moisés

Há indícios de que seria um símbolo fenício, posteriormente adotado pela cultura árabe e passado aos judeus.

Fez & Meknes, região das Cidades Imperiais e Médio Atlas

Marrakech, região das Montanhas Atlas e Sul

Casablanca & Rabat, região da Costa Atlântica

Tanger, região Norte

Almoçamos na cidade de Tetouan, fundada no século XIV.

Em nosso caminho até Fez fomos acompanhados pelas Montanhas do Rif.

> Muito curiosa a quantidade de ovelhas e de mulas, quase não se vendo cavalos e bois.

Fez, a bela adormecida do Oriente.

Após 358 km de uma estrada muito ruim, chegamos a Fez, nos hospedando no Hotel Menzeh Zalagh****, 10, rue Mohamed Diouri.

No norte da África e antiga capital do Marrocos, Fez, atualmente é a maior cidade medieval árabe do planeta ainda intacta.

Seu povo, os ‘fassis’ é uma mistura de andaluzes, tunisianos e berberes.

‘Madinal Fas’ foi fundada por volta de 790 e transformou-se numa grande cidade.

No fim do século XI as duas partes da cidade foram unidas dentro de muros, a cidade floresceu e viveu seu auge nos séculos XIII e XIV.

> 06/05/2013 – 2ª feira – youm al-itnayn

Começamos nosso dia acompanhados pelo guia local Halit, que nos conduziu ao ‘Palácio Real’, um dos mais suntuosos do Marrocos. Fechado ao público.

Dividida em Velha e Nova Fez, a cidade islâmica mais completa do mundo árabe tem duas medinas: ‘Fez el-Bali’ e ‘Fez el-Jdid’.

A palavra ‘medina’ vem da cidade de Medina, na Arábia Saudita, para onde o Profeta Maomé fugiu após sofrer perseguição em Meca. A Medina é a parte antiga da cidade, um labirinto de ruas estreitas encerradas em sólidas defesas. Suas principais ruas são cheias de souks, oficinas e edifícios sagrados. As demais ruas, residenciais, são mais calmas e oferecem um ambiente mais acolhedor.

‘Fez el-Bali’ é a maior medina do mundo, considerada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

No interior, mais de 9 mil vielas e becos, com os souks (mercados ao ar livre), mesquitas e até uma universidade de teologia, fundada em 1350.

Os souks, ruas de mercados e lojas, são típicos do Marrocos. Em geral para pedestres e às vezes cobertos, os souks se organizam por especialidade: tapetes, especiarias, legumes, lãs e para tingidores, artesãos de couro, etc. O resultado é uma confusão de cores, cheiros e sons.

A entrada principal para a velha medina é o ‘Portão Boujloud’.

Duas alamedas principais partem deste portão:  a ‘Talaa es Seghira’ e a ‘Talaa el-kebira’.

A ‘Talaa Kebira’ vai da ‘Medersa Bou Inanya’ até a ‘Medersa el-Attarin’.

Medersa, escola do Corão, onde se desenvolvem os estudos de teologia islâmica, direito e retórica, voltados para carreiras na política, direito ou religião.

Em Fez há 14 medersas.

Alguns outros portões: Bab Makina, Bab Ftouh, Bab Mahrouk, Bab Jdid.

Um dos monumentos mais magníficos do país é a imponente ‘Medersa Bou Inanya’, construída no século XIV, uma obra simples, porém minuciosamente adornada por estuque, zellig* e entalhes, o que a torna o edifício religioso mais importante de Fez.

*zellig, mosaico feito de cacos coloridos de cerâmicas, dispostos em padrões geométricos.

A ‘Mesquita Kairaouine’, fundada no século IX, era a maior do país até a abertura da ‘Mesquita Hassan II’, em Casablanca, no início da década de 1990. Fechada para não muçulmanos.

A mesquita, ‘djamaa’, tem sempre um ‘sahn’, pátio, com uma fonte de abluções e pelo menos uma sala de orações, com um ‘mihrab’ ou ‘qibla’, nicho voltado para Meca. O ‘muezzin’ chama os fiéis para a oração do alto dos minaretes, a maioria deles seguindo o modelo dos grandes minaretes da Mesquita de Koutoubia, em Marrakech.

> Os minaretes das mesquitas marroquinas são quadrados, diferentemente dos da Turquia, que são redondos.

Visitamos a casa que serviu de cenário para a novela ‘O Clone’ (2001/2002), a casa de Ali El Adib, o Tio Ali (Stenio Garcia).

Um dos prazeres em Fez é passear pelas ruas e pelos mercados da Medina, com seus palácios, lugares para saborear chá e lojas de antiguidades.

Um local bastante diferente para visitar em Fez é o ‘Bairro dos Curtidores’, onde os moradores tingem tecidos há mais de 700 anos. Peles de animais penduradas e grandes tanques para misturar as cores formam mais uma das cenas coloridas e inesquecíveis do Marrocos.

Visitamos uma cooperativa de curtidores numa área do século IX. O cheiro era tão forte e desagradável, que recebemos um molho de hortelã para driblá-lo, colocando-o sob o nariz, tornando possível a visita.

Fez tem a reputação de produzir as melhores babouches (chinelos de couro). As mais caras são feitas de pele de cabra ‘ziouani’ com costuras invisíveis.

A Medina ‘Fez el Jdid’ foi construída no século IX, rodeada de muralhas do século X. Século a século a Medina foi crescendo, incorporando novas construções.

Começamos nossa visita pelo século XVIII e fomos adentrando a Medina, descendo século a século e à medida em que íamos nos interiorizando, íamos sentindo a temperatura cair.

Segundo o guia local, é possível fora da Medina a temperatura estar em torno de 50º e dentro estar em torno dos 19º C.

Vocês não tem ideia de que experiência incrível !!! Uma viagem no túnel do tempo. Espero que as fotos permitam que vocês façam um pouco desta viagem.

Foi uma visita interessantíssima, que se revelaria um dos pontos altos do tour ao Marrocos.

A população de Fez é em torno de 1 milhão e 100 mil pessoas, das quais 450 mil delas vivem dentro da Medina.

À noite, um jantar com show típico, no Restaurante ‘Al Fassia’, um palácio do século XIV, belíssimo.

> 07/05/2013 – 3ª feira – youm al-talaat

Uma viagem de 68,5 km nos levou de Fez até Meknes para uma visita panorâmica à cidade, fundada no século X pela tribo nômade ‘Meknassa” e permaneceu uma pequena cidade até 1672, quando o novo rei, o Sultão Moulay Ismail, conhecido por sua crueldade e por mandar destruir Fez e Marrakech para que nenhuma outra cidade fosse mais bonita do que Meknes, tornou-a capital do Marrocos.

Moulay Ismail admirava muito o rei francês Luis XIV e era apaixonado por arquitetura, dando vazão à construção de imensos palácios, mesquitas e muros.

Reinou de 1672 a 1727, quando morreu, e a cidade de seus sonhos se desfez em ruínas, pilhada por seus sucessores e danificada pelo terremoto de 1755.

Em 1996, a UNESCO a declarou Patrimônio da Humanidade.

479 km se seguiram, nos levando de Meknes a Marrakech, numa zona pré-desértica.

Uma parada no Centro Comercial Marjane Galerie para esticarmos o corpo.

Marrakech, ‘terra do sol poente’, em árabe.

Nos hospedamos no Hotel Altas Asni****, na Avenue Mohammed VI, ex-Avenue de France.

> 08/05/2013 – 4ª feira – youm al-arbah

A guia local Fatiha nos acompanhou nesta visita à Marrakech, esta sim, a cidade exótica que representa bem a ideia que fazia do Marrocos.

Fundada em 1070, pelo conquistador Youssef bem Tachfine, esta antiga cidade atravessou três dinastias e cada uma delas deixou suas marcas.

Em 1126, o Sultão Ali ben Youssef deu início à construção das magníficas muralhas, com seus 10 km de extensão, 9 m de altura, 200 torres de defesa e 20 portões de entrada, concluindo a obra em um ano.

Desde então, as muralhas foram restauradas e ampliadas com frequência, mas, basicamente, ainda seguem o projeto do século XII, tendo ao fundo as belas Montanhas do Alto Atlas, que, dependendo da época do ano, podem ser vistas cobertas de neve.

Atualmente, 16 km de muralhas de ‘pisé’* ocre cercam Marrakech, atravessando cemitérios, cortando um agitado ‘souk’, uma praça e revelando os maravilhosos e bem preservados ‘babs’, portões.

* pisé, argila compacta da margem do rio

As cores das muralhas de barro mudam no decorrer do dia, de rosa claro a ocre e de vermelho a púrpura escuro.

> Aliás, todas as construções da cidade são da cor de tijolo e todas, sem exceção, são diferentes entre si. Dá para acreditar ? É simplesmente incrível o visual da cidade como um todo.

Um opção é dar a volta nas muralhas numa ‘caleche’, carruagem puxada por cavalos, saindo do ponto de partida, atrás da Mesquita Koutoubia, Avenida Houmane el Fetouaki, chegando no ponto final, na Djemaa el-Fna.

O passeio percorre cerca de 4-5 km e dura cerca de 3-4 horas, incluindo as visitas.

As medinas tem sempre uma ou mais mesquitas e, em Marrakech, a principal é a ‘Mosquée de la Koutoubia’, construída em 1199 depois de a original, de 1147, ter sido demolida por não estar corretamente posicionada em relação a Meca, sendo possível ver ao lado da de 1199 as ruínas da de 1147.

É famosa por seu minarete, de 70 m, que domina a paisagem da cidade, erguendo-se acima da medina, concluído em fins do século XII. Serviu de modelo para o clássico minarete marroquino, predominante nas mesquitas do país.

Diz a lenda que as três esferas douradas, no topo, foram feitas com as joias de uma das mulheres do Sultão Yacoub el-Mansour, como punição por ela ter quebrado o jejum do Ramadã ao comer três uvas.

Perto, fica a sepultura de Lalla Zohra, filha de uma personalidade religiosa do século XVII, que acredita-se se transformava em pombo todas as noites. As mulheres creem que ela protege as crianças.

Ao sul da mesquita ficam os magníficos jardins de rosas de ‘Koutoubia’, que, restaurados, recuperaram sua antiga glória.

Desde a fundação, no século XI, até a década de 1920, Marrakech foi uma cidade-jardim, 2/3 da medina eram dominados por jardins e pomares.

Seguimos para as Tumbas Saadinas, ‘Tombeaux Saadiens’, onde repousam os reis saadinos em esplendidos mausoléus, construídos em fins do século XVI pelo Sultão Ahmed el-Mansour e que ficaram ‘perdidos’ até que os franceses os redescobriram, por acaso, em 1917.

Na primeira sala, que funcionou como sala de orações, estão as tumbas das crianças, a segunda sala guarda as tumbas dos reis e a terceira sala as tumbas das mulheres, no entorno destas salas, na área externa, as tumbas dos soldados desconhecidos.

As diferenças entre as diversas tumbas apenas permitem distinguir as diferentes dinastias, não tendo qualquer relação com a hierarquia dos enterrados.

Outra visita foi ao ‘Palais el-Bahia’, ‘Resplendor’, construído pelo ‘Vizir Bou Ahmed’, um escravo que venceu na vida e que aí viveu com quatro esposas e 24 concubinas. Ainda que a decoração possa parecer vulgar e exagerada, possui vastas salas com tetos esculpidos e pintados, harém e um jardim com laranjeiras, limoeiros, bananeiras, jasmineiros e tamareiras. Único palácio aberto ao público. Rue Bab Rhemat, saída da Rue Riad ez Zitoun el Jdid, diariamente, das 8:30 às 11:30 horas e das 15 às 17:45 horas.

Visitamos na sequência, uma farmácia tradicional, a ‘Epices Ibno Baytar’, que logo na entrada oferece uma demonstração da extração do azeite. Dafa Ourbaà Haj Làarbi, 2, www.rosahulle.com

A ‘Djemaa el-Fna’, ‘lugar de aniquilação’, possivelmente uma referência à época, quando era usada para execuções públicas, é tão singular que a UNESCO teve de criar uma nova categoria para enquadrá-la, Patrimônio Imaterial da Humanidade.

É o coração mágico de Marrakech, com banda de músicos espirituais ‘Gnaoua’, usando túnicas do deserto e chapéus bordados com conchas; acrobatas, saltando uns sobre os outros até formar uma pirâmide; encantadores de serpentes e suas flautas ‘rhaita’, que hipnotizam quem as ouve; contadores de história; engolidores de fogo; mulheres fazendo tatuagens de hena … cheiros de comida e gritos de vendedores.

* gnaoua, irmandade originada de escravos do Mali e do Senegal

> Acreditem ou não, vivi a experiência de ter uma dessas cobras em meu pescoço, apoiando sua cabeça sobre uma das minhas mãos, o que achava incrível quando via na televisão.

Para aproveitar o dia em Marrakech, depois do grupo retornar ao hotel, eu e meu marido nos dirigimos a um ponto próximo de nosso hotel, tomamos o Bus Touristique e fizemos o Tour Historique, passando pelos seguintes pontos:

. Palais des Congrès; Av. Menara; Jardin de la Menara; Av. Mohamed VI; Hivernage; Sofitel; Bab Nkob; Bab Jdid; La Mamounia; Tombeaux Saadiens/Kasbah; Palais El Badi/Palais La Bahia; Place Jemaa El Fna/Souks; Hotel de Ville; Place Liberté; La Poste (Marrakech Plaza); Office de Tourisme/Gueliz, onde descemos para dar sequência ao Tour Oasis, passando pelos pontos:

. Complexe Hôtelier Semlalia; Centre Commercial Essaada; Palmeraie Hôtels; Palmeraie 1; Dromadaire Oasis; Jardins Majorelle; Office de Tourisme/Gueliz, onde mais uma vez descemos, retornando ao Tour Historique, descendo no ponto onde iniciamos este passeio, que buscamos fazer completo, ouvindo o áudio-guide, para uma mais completa panorâmica da cidade.

No Dromadaire Oasis tivemos oportunidade de ver camelos filhotinhos, adolescentes e adultos. Os bebês são lindinhos. Já tínhamos visto camelos, quando de nossa viagem a Israel e até andado num deles, mas filhotinhos, nunca havíamos visto, acho que nem em fotos.

À noite tivemos um jantar com show no Chez Ali, à 15 km de Marrakech.

O nome Chez Ali, ‘Casa do Ali’, decorre do fato do dono ter o costume de chamar as pessoas para comer em sua casa.

Trata-se de um jantar tipicamente marroquino, mais apresentações musicais e de danças, fechando o Show Equestre Fantasia.

Fomos recepcionados por um corredor formado por homens montados em seus cavalos, uma paixão berbere.

Avança-se, passando por várias tendas com músicos e dançarinas em suas roupas típicas, de diferentes grupos.

Chega-se a um pátio aberto, onde é possível dar uma volta de camelo, sem ou com uma tenda na parte de cima.

A caminhada continua, assim como mais grupos de músicos, mostrando a diversidade e riqueza da cultura berbere.

Enfim, o jantar, na tenda principal, tradicionais pratos marroquinos e dançarinas, que dão um clima todo especial ao jantar.

Adoramos o ‘tajine’, um cozido bem condimentado, que pode ser de carne ou peixe, e a sobremesa, ‘jawhara’.

Da tenda principal se passa para o local do show Fantasia, acrobacias sobre cavalos, tapete voador e fogos de artifícios.

Uma das performances reproduz uma batalha entre duas tribos berberes.

Na saída, um pequeno museu, numa reprodução de caverna, com peças de vestuário, vasos e joias.

Fiquei com pesar de não ter tido mais tempo em Marrakech, um cenário cinematográfico.

> 09/05/2013 – 5ª feira – youm al-khamees

Saímos de Marrakech em direção à Rabat, passando antes em Casablanca, a mais moderna cidade do Marrocos, chamada ‘petit Paris’.

Após 238 km de estrada, chegamos à Casablanca, conhecida por causa do clássico filme do mesmo nome, que, apesar da fama, não foi rodado na cidade marroquina.

Casablanca foi duas vezes destruída pelos colonizadores portugueses, que a reconstruíram com fortalezas e a batizaram de Casa Branca.

É a capital econômica do país, tem o maior porto do Norte da África e importantes atividades industriais.

Paramos na orla, onde almoçamos no Restaurante Le Poisson e caminhamos pelo calçadão.

O grande atrativo de nossa parada em Casablanca foi a ‘Mosquée Hassan II’, concluída em 1993, aberta à visita de não-muçulmanos. www.mosqueehassan2.com

No Boulevard Abdelmoumen Place Louis Pasteur, o local impressiona pela imponência.

Com capacidade para 25 mil fiéis é a terceira maior mesquita do mundo, atrás apenas de Meca e de Medina.

O minarete de mais de 200 m de altura é a mais alta torre de um monumento religioso no mundo.

O Rei Hassan II queria construir uma mesquita sobre as águas, referindo-se ao versículo do Corão que diz que ‘o trono de Deus era sobre a água’, então, um arquiteto francês projetou 2/3 da mesquita sobre o mar.

Nossa guia nesta visita foi Afifa.

10 mil artesãos trabalharam em sua construção durante 6 anos, de 1987 à 1993.

Revestida de madeira de cedro, a sala de oração tem 20 mil m², 60 m de altura e teto retrátil, que no verão se abre para o céu.

São 76 lustres de murano que pesam uns 300 kgs e outros 800 kgs.

São 76 pilares, os laterais ao Mirahb, que indica a orientação à Meca, trazem a árvore genealógica do Rei Hassan II, sua dinastia.

No mezanino ficam as mulheres que sobem por escadas resguardadas, já que não tem acesso à sala de orações e não devem ver nem serem vistas.

No chão, um piso de vidro, revela as salas de abluções, constituída de 41 fontes de mármore, com separação de homens e mulheres.

A água do ritual de purificação, que antecede as orações, não pode ser reutilizada.

Fecha nos cinco horários diários de oração e nestes horários fecha para não muçulmanos/visitas.

Evidente que não conhecemos Casablanca, mas  nos decepcionamos, principalmente com a sujeira, chão, paredes dos prédios, veículos (ônibus, motos, capacetes dos motociclistas, …), enfim, tudo mesmo.

Na periferia, as nossas favelas e os nossos pobres, comparados com os de Casablanca, não tem ideia de como pode ser ainda pior a vida, vivendo em algo que nem se pode chamar de habitação, sub-humano, nojento, vergonhoso.

Retomamos a estrada por mais 92,9 km em direção a Rabat.

Rabat, menos tocante do que Fez, menos exótica do que Marrakech e menos turbulenta do que Casablanca, a cidade tem atmosfera provinciana e exala um ar de elegância e bom padrão de vida.

Nos hospedamos no Golden Tulip Farah****, Place 16 Novembre, www.goldentulipfarahrabat.com

> 10/05/2013 – 6ª feira – youm al-gumah

Youssef foi o guia local em Rabat.

> Os marroquinos guardam as 6ª feiras, assim como os judeus guardam os sábados e os cristãos, os domingos.

Às 6ª feiras, a segunda oração do dia deve ser, obrigatoriamente, nas Mesquitas, se interrompendo os trabalhos, aos quais retornam após as orações.

A estrela da bandeira do Marrocos e a mão de Fátima tem cinco pontas/cinco dedos, respectivamente, uma referência aos cinco mandamentos.

Bem próximo ao nosso hotel, o luxuoso Mausoléu branco coberto com telhas verdes, do pai do atual rei Mohammed V.

400 artesãos trabalharam na sua construção.

Ao lado do imponente mausoléu, que tem guarda oficial, está um outro ponto interessante: a Torre Hassan II.

Trata-se de um minarete inacabado, que começou a ser construído no século XII para fazer parte de uma grande mesquita, projeto do soberano Yacoub al-Mansour.

Entretanto, por conta de um terremoto, a construção foi interrompida e, hoje, apenas 44 dos 86 m que estavam projetados podem ser vistos, além das 354 colunas que sustentariam a mesquita e que representariam cada um dos dias do ano, segundo o calendário lunar.

Retornamos à Praça 16 de Novembro, em frente ao nosso hotel. Do outro lado do rio a cidade de Salé.

Rabat e Salé floresceram a partir da pirataria.

Atualmente, Salé é uma cidade dormitório, sua população trabalha em Rabat.

Em 1912, os franceses fizeram de Rabat sua capital colonial. Construiram a ‘Ville Nouvelle’, ‘cidade nova’, que tem como principal avenida a Mohammed V, que mais a frente se torna Avenue Yacoub el-Mansour e leva às românticas ruínas de Chellah (a 2 km do centro).

E, desde 1912, Rabat, a 2ª cidade imperial do Marrocos, é a capital administrativa e política do país.

Toda murada, Rabat tem como principal atrativo o imenso ‘Palácio Real’, residência do Rei Mohammed VI, que, contudo, só pode ser visitado externamente, 5 mil pessoas trabalham no palácio, sendo 500 deles empregados domésticos.

O Sultão Yacoub e-Mansour fez da cidade sua capital em 1184, cercando-a com 6 km de muros e cinco portões monumentais, expandindo a casbá* e construindo a colossal ‘Mesquita de Hassan’.

*casbá ou ksar, vila tribal fortificada, em geral de propriedade de uma família importante

A entrada para a casbá é através da ‘Porte des Oudaias’, construída no final do século XII.

À época era uma casbá militar.

Logo após sua morte, a cidade caiu em declínio até o século XVII, quando chegaram os mouros expulsos da Espanha, que construíram a medina e também o muro andaluz, ao longo da Avenue Hassan II.

247 km depois de sairmos de Rabat, chegamos a Tanger.

Tanger, também conhecida como Tangier ou Tanja.

Nossa hospedagem foi no Atlas Rif & Spa****, no nº 152, da Avenue Mohammed VI, à beira mar. www.hotelsatlas.com

Casablanca, Rabat e Tanger ficam no litoral Atlântico.

Após nos acomodarmos, passeamos pelo calçadão.

Voltada para o Estreito de Gibraltar, que controla a entrada do Mediterrâneo e propicia a travessia mais fácil da Europa para a África. Tanger sempre teve grande importância estratégica.

Por sua legislação fiscal, sem entraves, e com status de porto livre, Tanger atraía bancos e empresas, o que lhe garantiu a designação de ‘Cidade Internacional’.

A partir da década de 1920, atraiu milionários estrangeiros em busca da decadência, ilegalidade, drogas e homossexualidade de Tanger.

A Baía de Tanger se estende entre dois cabos: a oeste fica o Cap Spartel, ‘Cabo das Vinhas’, segundo os romanos. Passando o farol, construído em 1864, a praia Robinson é voltada para as águas temerárias onde o Atlântico e o Mediterrâneo se encontram. A leste de Tanger, o Cap Malabata tem inúmeras vilas antigas e novos complexos hoteleiros.

Na chegada à cidade, passamos pela Place du 9 Avril 1947. A praça é ladeada pelos Jardins Mendoubia, onde há uma bela figueira-brava que dizem ter mais de 800 anos.

Nosso último dia e última noite no Marrocos !!!

O Marrocos não foi definitivamente tudo que eu esperava.

A viagem valeu por Fez e sua medina histórica e por Marrakech, esta sim, uma cidade tal qual a imagem exótica que vendem do Marrocos.

No mais, vimos locais interessantes, mas que não justificariam por si só a vinda ao Marrocos.

> 11/05/2013 – sábado – Youm is sabt

Traslado ao porto para embarcar às 10 horas no ferry de regresso a Espanha, trecho Tanger – Tarifa.

A dominicana Teresa e seu chamamento ao grupo, ‘Família’, jamais serão esquecidos.

A partir de Tarifa, continuamos a viagem de ônibus, novamente acompanhados da guia Imaculada, até Málaga, 159 km.

Ao todo percorremos nestes 7 dias, 1.781,40 km.

Informações adicionais:

. dispensado visto de turismo em viagens por até 90 dias

. o Marrocos está 4 horas à frente do horário do Brasil

. a alta temporada no Marrocos vai de abril à outubro

. de março à maio e setembro e outubro, o clima é mais fresco e há menos chance de chuvas, nós mesmos não pegamos qualquer chuva

. idioma oficial: árabe clássico, mas fala-se ‘darija’ ou árabe dialetal marroquino, além de três dialetos berberes e, ainda, francês, inglês e espanhol

. unidade monetária: dirham (dh)

. distâncias:

  139     km – Málaga a Algeciras

  358     km – Ceuta a Fez

   68,5   km – Fez a Meknes

  479     km – Meknes a Marrakech

  238     km – Marrakech a Casablanca

    92,9  km – Casablanca a Rabat

  247     km – Rabat a Tanger

  159     km – Tarifa a Málaga

1.781,4 km – total