LEOPOLDINA – MG e NATIVIDADE – RJ – BRASIL – 2021 (AGO)

Saímos de Cabo Frio – RJ, na 2ª feira, dia 23/08/2021, com destino a Leopoldina – MG, nosso itinerário: Cabo Frio – Rio Bonito – Magé – Teresópolis – Além Paraíba – Leopoldina (240 km).

Um pouco da história de Leopoldina: No final do século XVIII, a produção aurífera da Capitania de Minas Gerais entrou em decadência. Algumas famílias abandonaram as vilas do ouro, em busca de terras férteis em outras regiões da capitania. Alcançaram áreas proibidas de colonização, então conhecidas como Sertões do Leste, extensa faixa de Mata Atlântica que ia do Rio Paraibuna e do Caminho Novo até o Rio Doce, região que, posteriormente, ficou conhecida como Zona da Mata.

Em 1813 foram doadas as primeiras sesmarias no território do atual município, que à época pertencia ao termo de Barbacena, Comarca do Rio das Mortes, embora as mais antigas referências de moradores datem de 1824. Os primeiros desbravadores se fixaram com suas famílias às margens do ribeirão Feijão Cru, onde um pouso de tropeiros começou a se desenvolver próximo a uma pequena capela de pau a pique erguida em 1831 pelos fazendeiros Francisco Pinheiro de Lacerda e Joaquim Ferreira Brito e dedicada a São Sebastião.

Até a chegada dos primeiros sesmeiros, a região era habitada por índios puris, encarregados de derrubar a mata e colher a poaia, uma planta medicinal, serviços pelos quais eram pagos com cachaça. Os puris desapareceram dessa região por conta das doenças trazidas pelos desbravadores e por terem se retirado para a província do Espírito Santo, de forma que, em 1865, praticamente já não se encontravam índios na região.

Em 1831, foi criado o distrito de São Sebastião do Feijão Cru, pertencente ao município de São Manuel do Pomba, atual Rio Pomba. O nome foi dado numa  referência tanto ao padroeiro da localidade, São Sebastião, como ao ribeirão que a atravessa, Feijão Cru. O distrito foi transferido em 1851 para o município de Mar de Espanha, dele se emancipando pela Lei Provincial nº 666, de 27 de abril de 1854, que criou a Vila Leopoldina, nome adotado em homenagem à princesa Leopoldina de Bragança e Bourbon, segunda filha do Imperador D. Pedro II.

Essa mesma lei transferiu para Leopoldina alguns distritos desmembrados do município do Presídio, atual Visconde do Rio Branco. Por essa época, o território do município abrigava uma população de 23 mil habitantes.

A formação da vila começou em torno da Praça do Rosário, a partir da qual saíam as ruas do Rosário (atual Rua Tiradentes), Direita (atual Rua Gabriel Magalhães e Riachuelo (atual Rua Joaquim Ferreira Brito), que constituem os logradouros mais antigos da cidade.

Vila Leopoldina foi elevada à categoria de cidade pela Lei Provincial nº 1116, de 16 de outubro de 1861. Em 1872, Leopoldina passou a sede de comarca pela Lei Provincial nº 1867.

Em 1862, o município de Leopoldina era composto pela sede municipal e pelos distritos da Piedade (Piacatuba), Rio Pardo (Argirita), Nossa Senhora das Dores do Monte Alegre (Taruaçu), Madre de Deus do Angu (Angustura), São José do Parahyba e Porto Novo do Cunha (Além Paraíba), Conceição da Boa Vista, Conceição do Parahyba e Santana do Pirapetinga (Pirapetinga), Santa Cruz e Dores do Rio Pomba (Itapiruçu), Santa Rita do Meia Pataca (Cataguases), Santo Antônio do Muriaé (Miraí), São Francisco de Assis da Capivara (Palma) e Nossa Senhora da Conceição do Laranjal (Laranjal). Na Sede do município havia duas escolas públicas, uma para cada sexo, e doze estabelecimentos comerciais e o café se tornou a principal atividade econômica na década de 1860 e a cidade, uma das mais importantes da antiga província de Minas Gerais.

Em função do desenvolvimento do município, foi criado um comando da Guarda Nacional em Leopoldina e a segurança pública era exercida por um Destacamento Policial que, em 1873, contava com um oficial, um adjunto e dez soldados. No Censo de 1872, na Paróquia de São Sebastião da Leopoldina, ou seja, na sede do município, foram computados 7.899 moradores.

O município também foi beneficiado pela construção da Estrada de Ferro Leopoldina, cujos trilhos alcançaram a cidade em 1877. Pela ferrovia se realizava o comércio com o Rio de Janeiro, capital do Império. Em 1879, foi fundado o Jornal Leopoldinense; em abril de 1881, o Imperador D. Pedro II visitou a cidade.

Em 1883, o município chegou a apresentar a segunda maior população de escravos da província de Minas Gerais, atrás apenas de Juiz de Fora. Entre a última década do século XIX e a primeira do século XX, imigrantes europeus chegaram a Leopoldina para o trabalho na lavoura de café. Na cidade, funcionou uma hospedaria de imigrantes até 1898. Em 1910, foi criada no distrito de Tebas a Colônia Constança para imigrantes, principalmente italianos.

Em 02 de setembro de 1906, no distrito de Piacatuba, foi lançada a pedra fundamental da Usina Maurício, a primeira usina hidrelétrica construída na região, aproveitando o potencial hidráulico da Cachoeira da Fumaça, no rio Novo. Dois anos depois, a energia elétrica chegava à cidade.

Em 1912, o Ginásio Leopoldinense passou a oferecer o ensino técnico pela Escola Agrícola.

Entre 1911 e 1912, foram fundados o Banco Ribeiro Junqueira e a companhia construtora Zona da Mata.

Com a grande crise econômica de 1929, a economia dos municípios mineiros ligados à cafeicultura sofreu grande abalo. Atualmente sua economia se apoia na pecuária leiteira, no cultivo de arroz e no setor de serviços.

Hoje, Leopoldina é formada pelo distrito-sede e pelos de Abaíba, Piacatuba, Providência, Ribeiro Junqueira e Tebas.

fontes: Leopoldina, MG: História e Memória e Wikipédia

Chegamos a Leopoldina, indo direto ao distrito de Piacatuba, onde pretendíamos almoçar no Restaurante das Pedras, na Rua das Pedras, mas que se encontrava fechado, ainda que o Google informasse estar aberto, ou seja, meu desejo pelos torresmos ficou adiado. Pretendíamos ainda conhecer a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade e a Torre da Cruz Queimada, a Igreja também se encontrava fechada, só pudemos visitá-la externamente, mas na Torre da Cruz Queimada, um senhor aguardava alguém para fazer um orçamento e nos permitiu, gentilmente, a entrada. Agradecemos. Piacatuba é uma pintura, pequenina e linda.

Mais uma vez a história se apresenta, a tradição local conta, com pequenas variações, a seguinte história da Cruz Queimada de Piacatuba:

“No dia 23 do mês de agosto de 1844, o Capitão Domingos de Oliveira Alves, em procuração passada em Cartório da cidade de São João Nepomuceno ao Senhor Domingos Henriques de Gusmão, fez doação de uma sesmaria, de mais ou menos 33 alqueires de terras, para nela ser edificada uma Capela em louvor a Nossa Senhora da Piedade, nome este que foi dado ao povoamento ali criado. O lugar, conforme reza a escritura, é situado entre os rios Novo e Pardo e fazia divisas com as terras de José Ignácio, Hipólito Pereira da Silveira e Tristão Policarpo de Oliveira. Um senhor da época, de nome Pereira da Silveira, não concordou com a doação feita pelo Capitão Domingos de Oliveira Alves, que mandou colocar um Cruzeiro de ‘tapinuan’, de 6 metros de altura, em um pequeno terreno arenoso, que dominava o lugar onde seria feita a Capela e criado o povoado de Nossa Senhora da Piedade. E assim foi que no dia 27 de setembro de 1844, fez-se acompanhar de seus escravos e empregados e dirigiu-se ao local onde fora colocado o madeiro, como marco da doação feita, e resolveu arrancá-lo, o que não conseguiu. Tentou cortá-lo, o que também não conseguiu. Resolveu, então, tombar a Cruz e mandou que seus escravos juntassem grande quantidade de lenha e a cobrissem, por inteiro, e depois de completamente coberta a Cruz, mandou que se ateasse fogo, ocasionando uma enorme fogueira que crepitou por noite adentro. Na manhã seguinte, um dos escravos, dando pela falta de uma foice que lembrara deixara, à véspera, no lugar onde fizeram a sacrilege fogueira, foi procurá-la e, então, verificou que toda a lenha havia sido consumida pelo fogo, mas a Cruz vencera, triunfalmente, a fogueira e continuava de pé, levemente chamuscada, numa verdadeira demonstração do poder divino. A Justiça de Deus não se fez esperar, pois um dos protagonistas do sacrilégio foi acometido de terrível loucura e terminou os seus dias preso em uma corrente, como cão raivoso. O outro coparticipante do fato, acometido de câncer na garganta, terminou seus dias em um mar de sangue, com o rompimento de uma veia, corroída pela enfermidade cruel. Um outro coparticipante, terminou os seus dias sentindo fortes dores pelo corpo sem descobrir a causa. Retorciam-se-lhe os nervos, ficando com o corpo todo deformado. Ao preparar azeite de mamona, o líquido tomava a cor de sangue e, quando torrava farinha de mandioca, esta se avermelhava repentinamente e não voltava mais a sua primitiva cor natural. O Padre Zeferino de Abreu iniciou a construção de uma Capela na Praça da Santa Cruz, mas não conseguiu terminá-la, pois foi colhido pela morte. Somente muitos anos após isto, em 1928, é que o Padre Raymundo Nonato de Araújo conseguiu construir a magnífica Torre de três andares, que guarda em seu 1º pavimento, a milagrosa ‘Cruz Queimada’, motivo de orgulho, de respeito e de devoção. No segundo pavimento da Capela veem-se expostas várias fotografias de pessoas que foram beneficiadas por milagrosas graças da Santa Cruz. Como é costume, desde a inauguração da Torre, em 03 maio de 1928, quando foram levadas a efeito numerosas festividades religiosas, tendo havido a celebração da santa missa na Capela da Santa Cruz, ficando o santo madeiro exposto à veneração no decorrer de todo o dia e, à noite, levado em solene e respeitosa procissão, que percorreu as principais ruas da vila. Ao recolhimento da Santa Cruz à Capela, o Padre Paulo Fadda deu a benção do Santíssimo aos numerosos fiéis presentes.” (fonte: Gazeta de Leopoldina, 17/05/1964)

Esta história é a protagonista do livreto ‘História da Cruz Queimada – Nossa Senhora da Piedade – Período 1823 a 1981’, publicado em 1981, cujo autor é antigo e respeitado morador de Piacatuba, Waldemar Barbosa (Valinho).

Em agosto de 1984, o Programa da Rede Manchete de televisão ‘Acredite se quiser’, produziu e transmitiu o episódio intitulado ‘A cruz de Nossa Senhora da Piedade’.

Em 08 de janeiro de 2002, a história da Cruz Queimada foi contada pelo Jornal Estado de Minas.

Em 2009, alunos da Escola Pompilio Guimarães pintaram a lenda da Cruz Queimada no muro do colégio em cerca de quinze quadros, bela e criativa maneira de fixar, divulgar, representar o simbolismo religioso e o significado da Cruz Queimada para a história local e regional.

Ao longo de todos os seus mais de 170 anos de existência, a lenda da Cruz Quiemada já foi contada e reproduzida em variados canais, formas e veículos de comunicação, desde a via oral, passando pela imprensa, rádio, televisão, internet, etc.

A Paróquia Nossa Senhora da Piedade, Praça da Matriz, data de 1873, havendo assentos paroquiais registrados a partir de 20/04/1851, quando se deu o primeiro deles. Um pouco de sua história, publicada no Jornal Leopoldinense, registra que, por escritura de 23 de agosto de 1844, Domingos de Oliveira Alves fez doação de terras para a formação do patrimônio de Nossa Senhora da Piedade, tendo a construção ocorrido entre 1844 e 1850. A partir de 27 de abril de 1854, com a elevação à Freguesia da antiga Vila do Feijão Cru, ficou o Curato da Piedade como filial da então denominada Freguesia de São Sebastião da Leopoldina. O Curato de Nossa Senhora da Piedade, em alguns registros aparece como Curato de Nossa Senhora da Piedade do Rio Pardo. Em 1873, foi criada a Paróquia da Piedade.

Encerramos nossa visita e nos dirigimos a Leopoldina, onde nos hospedamos no Hotel Minas Tower, Avenida Getúlio Vargas, 215 – Centro, ótima localização, quarto amplo e ainda dispondo de uma varanda voltada, no nosso caso, para a Igreja São José Operário. No térreo um restaurante, onde comemos muito bem nessa nossa primeira noite na cidade, ‘Mondo Japa & Grill’.

E nossa 3ª feira, 24/08/2021, amanheceu assim:

Esse seria um dia muito especial, cheio de emoções, afinal, essa viagem estava relacionada principalmente à minha ancestralidade, já que meu avó materno, Moacyr Ferreira de Azevedo, nasceu em 05/03/1907, às 14 horas, em Santa Izabel – MG, atual Distrito de Abaíba, Leopoldina – MG. (fonte nossosroteiros.com.br )

E lá estava eu, em Abaíba, desejando que meu avó soubesse/sentisse que eu estava ali, buscando por ele, por sua história, por seus caminhos.

Abaíba fica a 16 km de Leopoldina, por estrada sinuosa de terra e é banhada pelo rio Pirapetinga. Foi fundada com o nome de Santa Izabel, em 21 de novembro de 1890, pelo decreto estadual nº 241, passando a se chamar Abaíba em 31 de dezembro de 1943 pelo decreto-lei estadual nº 1058.

 

De acordo com a Wikipédia, Abaíba é uma palavra proveniente da língua tupi e significa ‘índios maus, ferozes, sem contato com os brancos’, através da junção de abá (índios) e aíba (ruins). Já o dicionário Tupi-Guarani, segundo o Leopoldinenese, afirma que a palavra Abaíba significa noivo ou namorado e que este nome foi dado à fazenda construída por João Monteiro Lobato Galvão de São Martinho quando este estava para se casar. O nome da fazenda construída no século XIX acabou rebatizando o antigo distrito de Santa Izabel.

O primeiro local a que fomos foi a Igreja de Santa Izabel, construída por Antônio Monteiro Ribeiro Junqueira, com sua frente virada para a Fazenda Abaíba. Uma neta de Antônio Monteiro Ribeiro Junqueira, pai de Erico Ribeiro Junqueira, e filha de Francisco José Junqueira, pintou quadros da Via Sacra em vãos da escada. (fonte Afranio Augusto Côrtes Junqueira)

E tamanha foi minha surpresa ao encontrar na sacristia um quadro que registrava que o construtor da escada daquela Igreja, em 1934, tinha sido o irmão mais velho do meu avó, José Ferreira de Azevedo, que veio com os pais de Portugal já com seus 11 anos de idade.

Descemos, então, e nos dirigimos a cidade, onde pude encontrar minha prima, filha de uma irmã de meu avó, Ana e para minha maior surpresa se chama Silvia, no auge dos seus  91 anos. Conversamos rapidamente, afinal ainda estamos em tempos de COVID.

A cidade é muito bonitinha e pequenina, um charme que só as pequenas cidades tem.

Daí segui até o Cartório de Registro Civil e Notas de Abaíba – MG, onde obtive uma cópia reprográfica do registro de nascimento do meu avó, já que meu ex-chefe, amigo, leopoldinense, Marcelo Junqueira Ferraz havia obtido uma Certidão de Inteiro Teor da referida Certidão. Ele nos ciceroneou nessa visita e outras mais. Nada como ter amigos de fé, irmãos, camaradas. BRIGADUUU … Marcelo.

Ainda segundo Marcelo, numa determinada época, cidades com o mesmo nome foram obrigadas a mudar de nome. Só a primeira a adotar o nome podia mantê-lo. Foi assim que Santa Izabel mudou o nome para Abaíba.

Fiquei extremamente emocionada com tudo que vive nesse dia, pra lá de especial.

Como eu já mencionei acima, a Igreja tem sua frente virada para a Fazenda Abaíba. A sede da fazenda foi construída por João Monteiro Lobato Galvão de São Martinho na segunda metade do século XIX, depois foi adquirida por Antônio Monteiro Ribeiro Junqueira que fez vários melhoramentos na mesma. A Fazenda Abaíba se destaca pela criação do cavalo Mangalarga Marchador, linhagem Abaíba. www.abaiba.com.br

Nesta altura, o dia havia só começado, seguimos com Marcelo Junqueira Ferraz que nos presenteou com visitas a Fazenda Passa Tempo e a Fazenda Boa Esperança.

“Em 1921, a quarta filha de Tomé de Andrade Junqueira e Iria dos Reis Junqueira, com o nome de Guilhermina, casou-se com o seu primo do Sul de Minas, Alceu Junqueira Ferraz, filho da neta predileta e afilhada do Barão de Alfenas, Maria José Junqueira Ferraz e de Salviano Dias Ferraz.

Após o casamento, Alceu e Guilhermina fixaram residência na Fazenda Capetinga, localizada no município de Maria da Fé, nas terras altas da Mantiqueira.

Um ano depois, por influência do sogro, adquiriram a Fazenda Passa Tempo, no antigo Distrito de Santa Izabel, hoje Abaíba, com 150 alqueires e mudaram-se para Leopoldina, então, a nova fronteira de expansão agrícola.

O jovem casal, de origem e gosto pela terra, fez de Passa Tempo uma verdadeira empresa rural.

Na terra de grande qualidade da Zona da Mata Mineira, desenvolveram cafezais frondosos, gado Jersey de qualidade excepcional, grande produção de açúcar e cachaça, bem como a suinocultura, que, durante muitos anos, foi referência na região.

Na fazenda existiam 50 casas de colonos e trabalhavam cerca de 130 funcionários.

Graças ao trabalho e à dedicação diuturna à atividade rural, a Fazenda Passa Tempo foi sendo agregada com terras vizinhas, tendo sua área de produção aumentado para 2000 hectares.

Foi nesse ambiente de produção e trabalho que o Senhor Alceu e Dona Guilhermina tiveram e criaram seus filhos, com os mais elevados princípios e valores.

Ainda em vida, em 1942, Alceu e Guilhermina doaram a Fazenda aos filhos, tendo a sede sido herdada com 33 alqueires por Fernando Junqueira Ferraz, que, posteriormente, a vendeu ao seu irmão Salviano Junqueira Ferraz, casado com Maria Luiza Monteiro Junqueira.

Foi na Fazenda Passa Tempo, com seus 65 alqueires, após referida aquisição, que Salviano e Maria Luiza acabaram de criar os três filhos: Pedro Augusto, Salviano e Marcelo.

A Fazenda foi sempre um cenário de um convívio familiar cheio de alegria, afeto e amor, tudo sob o exemplo de retidão e trabalho.

Em 1970, após a morte de Dona Maria Luiza, com 45 anos, a fazenda continuou a ser o porto seguro de uma família que, mais do que nunca, precisava ser unida para suportar perda tão significativa.

Pouco tempo depois, o Senhor Salviano casou-se com Dona Marília Ribeiro dos Reis e continuaram, com dedicação e entusiasmo, trabalhando e administrando a Fazenda.

Em 1989, a Fazenda Passa Tempo foi arrendada para o segundo filho da irmandade, Salviano e sua esposa Maria Cláudia, que continuaram a manter a dedicação às coisas da terra e a cultivar o convívio familiar.

Em 1999 o Senhor Salviano fez doação em vida dos seus bens e a Fazenda Passa Tempo passou a pertencer ao seu filho mais velho, Pedro Augusto Junqueira Ferraz e a sua esposa Márcia Ananias Junqueira Ferraz.

A Passa Tempo conta hoje com 520 hectares dedicados a criação do gado nelore, do cavalo mangalarga marchador e reflorestamento de eucalipto, com sua sede totalmente restaurada, um marco da história da Família Junqueira Ferraz.” (fonte: A Gazeta – Leopoldina MG)

“… cultivar as memórias queridas não significa guardá-las em uma gaveta, mas, sim, transmiti-las, lembrando, escrevendo, falando sobre elas. É manter essa memória viva.” (Helaine Martins)

Uma Fazenda

Neblina com madrugada,

a matula com caçada

bota, botina, surrão,

cartucheira, carabina,

rio, lagoa, brejão,

berrante, boi e buzina,

soja, cerrado, algodão,

grama, capim e coivara,

cabrito, coelho e leitão.

Laço, suor e capivara,

paca, tatu, cotia não,

roda d’água, saracura,

fogão de lenha, carvão,

siriema, rapadura,

cachorro de estimação.

Pato, galinha, codorna,

marmelo com fruta-pão,

fazenda com tamarindo

onde piava o pavão.

Farinha de mandioca,

marolo, manga e goiaba,

vara de anzol e minhoca,

vassoura de piaçaba.

Boi-baguá, gado leiteiro,

jacaré e sucuri,

Santo-Reis lá no terreiro,

fritada de lambari,

e o veado catingueiro,

arisco como não vi.

Causo, cachorro, caçada,

laranjeira e mixirica,

horta sempre molhada,

o pomar em terra rica.

João-de-barro, bem-te-vi,

boi berrando no curral,

arapuca, abacaxi,

papagaio no varal,

tinha galinha de angola,

e galinha garnizé,

cana, capim pangola,

arroz, feijão e café.

Cheiro de couro e de arreio,

e de silos, no curral,

cheiro de chuva chegando,

vento varrendo o quintal.

Tinha gambá no meu forro,

tinha curau no meu prato,

tinha os primos, pra socorro,

e pra escutar os relatos.

E tinha as bostas de vaca,

verdes, rasas, junto ao chão,

e orbitando em volta delas,

como nuvem de avião,

as borboletas amarelas,

fascínio do meu sertão!

Espinho de arranha gato,

abelha, bicho de pé,

marimbondo, pau de mato,

menina, moça e muié.

Põe tudo isso num curral

e deixa aberta a porteira,

por fora o povo em geral,

quem for pra dentro é Junqueira.

Marcelo de Almeida Toledo

Na Fazenda Boa Esperança nos esperava a esposa do Marcelo, Cristina, com um delicioso almoço e todos com disponibilidade para muito e bom papo. Já era fim de tarde quando retornamos a Leopoldina. Sabe aquele dia em que você diz, não podia ter sido melhor.

Na 3ª feira, começamos o dia caminhando em direção a Catedral de São Sebastião, na Praça Dom Helvécio. A paróquia de São Sebastião foi criada em 27 de abril de 1854. Nas proximidades do atual templo, erguia-se a antiga matriz de São Sebastião, construída no século XIX. No local da antiga matriz, foi erguida em 1946 uma estátua de Nossa Senhora da Paz, uma iniciativa de Dom Delfim Ribeiro Guedes, primeiro bispo da Diocese de Leopoldina, em agradecimento pelo término da II Guerra Mundial.

Saindo da Catedral fomos até o Museu Espaço dos Anjos, Rua Barão de Cotegipe, 386 – Centro, que, contudo, estava fechado. O Museu é dedicado a Augusto dos Anjos (1884-1914) e está situado na casa em que o poeta viveu.

A Rua Barão de Cotegipe é um rua de comércio. Fomos até a Catedral e retornamos por ela.

Pensamos em almoçar no Restaurante Grotão, que fica fora do Centro de Leopoldina, na Rua João Batista Ferreira, 806 – Três Cruzes, mas ao chegar lá, não estava funcionando. Retornamos ao Centro e almoçamos no Restaurante e Pizzaria Manera Mineira.

Estivemos na Paróquia São José Operário, na Rua Antônio Frederico Ozanan Coelho, 100 – Jardim Lisboa, mas também estava fechada e só pudemos vê-la externamente. Daí é possível também desfrutar de uma linda vista da cidade. Esta é a igreja que avistamos da janela do nosso quarto do hotel.

A 4ª feira, nos reservava um dia muitíssimo especial, fomos com o casal Marcelo & Cristina conhecer e almoçar na Fazenda Floresta de uma amiga de trabalho do meu marido, Regina Smith & seu marido Paulo. Logo na entrada da sala da casa, à esquerda um belíssimo altar dedicado a Santa Filomena, muito nos emocionou.

 

Ó Gloriosa Santa Filomena, Virgem e Mártir, exemplo de fé e esperança generosa na caridade, a vós suplico, escutai a minha prece. Do Céu onde reinais, faça cair sobre mim toda proteção e auxílio de que necessito, neste momento em que minhas forças se enfraquecem. Vós que sois tão poderosa junto a Deus, intercedei por mim e alcançai-me a graça que desejo receber. Ó Santa Filomena, ilustre por tantos milagres, rogai por mim. Não me abandonais, mas lançai vosso olhar como um raio de esperança sobre mim e minha família. Afastai as tentações, dai paz a minha alma e abençoai a minha casa. Ó Santa Filomena, pelo sangue que derramastes por amor a Jesus Cristo, alcançai-me a graça que vos peço. 

 

Além da casa ser linda, inúmeros são seus móveis e objetos igualmente belos.

Num dos quadros, encontramos essa preciosidade em forma de texto: “O que significa ser um Junqueira?”

  • Ser Junqueira é descender de João Francisco. O MATRIARCA, que em 1750 aportou no Vice-Reinado do Brasil, Colônia d’Além Mar de Portugal, tendo nascido em 1727 na Aldeia de São Simão da Junqueira;
  • Ser Junqueira é ser do ramo de João Francisco Filho (do Favacho), de Francisco (da Jardim), de Maria Francisca da Encarnação (da Santo Inácio), de José Francisco (da Bela Cruz), de Ana Cândida, de Genoveva, ou mesmo de Gabriel Francisco, o Barão de Alfenas (da Campo Alegre);
  • Ser Junqueira é ser exímio cavaleiro e perfeito acertador de tropas, além de possuir o dom de saber apreciar um cavalo acima de quaisquer divergências;
  • Ser Junqueira é criar gosto pelas raças Mangalarga ou Mangalarga Marchador, não importando verdadeiramente estabelecer qual das duas, pois a bem da história zootécnica, ambas foram iniciadas no seio de sua família;
  • Ser Junqueira é deter a memória do Brasil Colônia, estudar o arco da sociedade ocorrido no Brasil Império, viver à época do Brasil República e acreditar, principalmente, no Brasil Novo;
  • Ser Junqueira é não renunciar nunca às suas tradições mais profundas, pois, como o Violinista no Telhado, ele vive do renascer da sua própria história;
  • Ser Junqueira é ser consanguíneo, sangue de primo com prima, tio com sobrinha, pois a genética aproximada realçou-lhe as qualidades e corrigiu-lhe os possíveis desvios;
  • Ser Junqueira é fumar cigarro de palha preparado com o canivete amigo que vive à barra da cinta; e preferir o Bacalhau à Gomes de Sá ao sanduíche mais moderno;
  • Ser Junqueira é chegar bem cedo na fazenda dos compadres para negociar gado de leite, sempre dirigindo um Volks 69 e reclamando da política de financiamento rural, enquanto o Omega 96 fica na garagem de sua sede;
  • Ser Junqueira é apreciar Juscelino Kubitschek e D. Pedro II, impulsores dos maiores períodos de desenvolvimento nacional. Quanto à Princesa Isabel, bem … deixa isso pra lá;
  • Ser Junqueira é entender que Fortuna, Cana Verde, Abismo, Colorado, Turbante, Cadillac, Sheik, Bellini, Caxias, Lôla, Predileto, Óder, Apolo, Almanaque, Sincero, Jupiá, Capricho, Eldorado, Ouro Preto, Gigante, Pedra Estanho, Sururu, Cego, Cossaco, Irapuru, Itu, Sátyro, Capitel, Bônus e tantos outros foram animais de exceção e que por si só justificariam uma galeria de notáveis;
  • Ser Junqueira é ter a paciência de atender novos criadores de cavalos, ávidos de informação e curiosismos, nas tardes de sábados e domingos, outrora reservadas ao descanso semanal;
  • Ser Junqueira é apreciar a caça ao veado nos Campos das Gerais e no Planalto Paulista, procurando sempre dispor da melhor matilha de uivadores aliada à impar montaria do cavalo veadeiro;
  • Ser Junqueira é “acertar” o queijo de Minas na hora do bom café fumegante, fazendo-o desaparecer entre a roda dos visitantes após alguns minutos à mesa da sala;
  • Tudo isso é ser Junqueira e poderíamos discorrer outras tantas linhas. Todavia o Amigo é muito mais, pois é simplesmente um amante do Cavalo de Sela Nacional.”

Foi uma tarde pra não se esquecer: boas companhias, bom papo, boa comida, boa não, excelente, comi um purê de batata doce dos deuses.

Nos despedimos da Fazenda Floresta para também nos despedirmos de Leopoldina, para no dia seguinte seguirmos para Natividade.

ESTAMOS SAINDO DE LEOPOLDINA, MAS LEOPOLDINA NÃO MAIS SAIRÁ DE NÓS.

 

 

Na manhã seguinte, saímos de Leopoldina com destino a Natividade, mais precisamente ao Santuário das Aparições de Nossa Senhora da Natividade, a 8 km de Natividade em direção a Ourânia. Embora tão perto da minha cidade natal, Tombos, nunca tinha estado nesse Santuário.

A história que antecede e leva a sua construção é muito emocionante e pode ser encontrada na biografia do médico e advogado Dr. Fausto de Faria, escrita pelo filho dele Ronaldo Faria: “Eu vi a Mãe de Cristo”.

O Santuário é uma réplica da Casa de Maria, numa colina, a Panayua Kapulu, a 6 km da cidade de Éfeso, onde Maria viveu por 9 anos. Para nós foi uma forte emoção, inclusive porque estivemos na Casa em Éfeso e de fato é exatamente como vimos lá.

A imagem que se encontra no Santuário é de bronze, esculpida pelo artista Gilberto Mandarino e fundida na Fundição Cavina, no Rio e teve por base um retrato feito pela pintora e poetisa Iraci do Nascimento e Silva, a partir da descrição do  Dr. Fausto:

  • rosto e olhar de uma pessoa viva;
  • tez bem alva;
  • maçãs do rosto ligeiramente rosadas;
  • rosto longo, ovalado e bonito;
  • olhos grandes, vivos, bem afastados um do outro, castanhos claros;
  • cabelos ondulados da mesma cor dos olhos, castanhos claros, cobertos por um manto do mesmo tecido do vestuário, caído para trás dos ombros;
  • lábios cheios numa boca pequena;
  • postura reta, com as mãos juntas, a palma da mão esquerda pousada sobre a palma da mão direita, juntas acima da cintura;
  • pés descalços;
  • mãos e pés dourados, não como ouro maciço ou da cor dourada-plena, mas como se estivessem com uma purpurina dourada sobre a pele;
  • vestido inteiriço, de mangas largas, de tecido grosso e modelo primitivo, cinza-claro ou azul fosco;
  • alta, magra, aparentando quarenta e poucos anos, com expressão acolhedora e santa.

Foram cinco aparições e numa delas Maria revelou que sua ascensão se deu em Éfeso.

Todo dia 12 de cada mês é celebrada uma missa no Santuário.

Oração à Nossa Senhora de Natividade feita pelo Dr. Fausto

Ó Mãe divina de Jesus Cristo nosso Salvador e Mãe tutelar de Sua Santa Igreja, Rainha dos Céus, medianeiras e Mãe querida de todos nós!

Vós que recebestes de Deus Pai a missão de aparecer em terras brasileiras no recanto abençoado de Natividade, para onde acorrem os peregrinos de Vossa devoção em busca de ajuda e proteção;

Vós que pisastes o regato cuja água milagrosa bebemos;

Vós que deixastes a misteriosa Cefas como penhor de Vossa presença permanente;

Vós que ditastes sábias e sublimes exortações à Igreja e à humanidade;

Vós que destes Vossa maternal e privilegiada bênção e que continuais a derramar Vossas prodigiosas graças

No local de Vossas aparições ou na réplica de Vossa morada de Éfeso, de onde fostes levada ao encontro de Vosso Filho no reino de Deus, ouvi e acolhei esta prece e este pedido, feitos com toda veneração, muito amor, confiança e humildade, de quem Vos beija as mãos douradas e se ajoelha fervorosamente aos Vossos pés e Vos agradece, com orações e penitências, entoando o hino de Vossa glória: a Ave Maria.

Se desejar ver o conteúdo de nossa viagem a Éfeso, acesse:

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