SÃO JOSÉ DAS TRÊS ILHAS (MG) – RIO DAS FLORES (RJ) – CONSERVATÓRIA (RJ) – BRASIL – 2021 (DEZ)

O que me motivou a esta viagem foi a notícia publicada no Diário do Vale acerca da inauguração, em 29/11/2021, da iluminação da conhecida ‘Cidade da Seresta’, Conservatória, distrito de Valença, que ganhou luzes e cores do Natal Iluminado, uma realização do Governo Municipal juntamente com a Associação Comercial, Rural, Industrial e Turística, empresários e comerciantes locais. Na verdade, considero esse primeiro passo no desenvolvimento de uma ideia, de um projeto, contudo, com um longo caminho a trilhar.

  • 10/12/2021 – 6ª feira – Rio de Janeiro (RJ) à São José das Três Ilhas (MG) – 176,7 km (2h50m)

O wase e uma estrada de terra de 8 km nos levaram ao pequeno povoado pertencente ao município de Belmiro Braga – MG, próximo à divisa do Estado do Rio de Janeiro, com menos de 200 habitantes, a 35 km de Rio das Flores.

O traçado urbano de São José das Três Ilhas se caracteriza por uma rua principal, a Avenida Antônio Bernardino de Barros, e outras poucas, paralelas ou perpendiculares.

O perímetro de tombamento inclui a Igreja de São José e o único sobrado que existe no local, do Barão de São José Del Rey.

Casario colonial preservado; belíssima igreja de pedra construída pelos barões do café da região, no final do século XIX; cemitério, onde estão sepultados alguns desses barões, sensação de termos entrado num túnel do tempo e saído em São José das Três Ilhas.

“A capela dedicada a São José foi erigida por provisão de 28 de agosto de 1828, em terreno doado por uma das filhas de José Maria Moura à Irmandade de São José. O povoado que surgiu nas imediações da Capela, se consolidou em função do plantio do café. Em 1927, o povoado ganhou a toponímia de São José das Três Ilhas, e em 1938, tornou-se oficialmente Três Ilhas. O Centro Histórico de São José das Três Ilhas e a Igreja Matriz de São José tiveram o tombamento estadual em 1997.” Fonte: IEPHA/MG (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais)

O primeiro morador da região foi Antônio Bernardino de Barros, que veio a se tornar o Barão das Três Ilhas e que adquiriu duas sesmarias do guarda-mor João Francisco de Souza por intermédio do Coronel Manoel do Vale Amado. Antônio Bernardino de Barros era irmão do Barão de São José del Rei.

Nos anos 1950, Três Ilhas contava com vinte e seis construções, vinte de uso residencial e seis de usos diversos como cartório, mercearia, que lembra os antigos armazéns de secos & molhados e a única pousada.

Na garagem de uma casa a plaquinha Barraca Colaborativa, permite comprar produtos artesanais feitos por moradores da região. (sábados, domingos e feriados, das 10 às 17 horas)

A Igreja Matriz de São José, implantada na encosta de uma colina, constitui expressão do poderio dos barões do café da região. As primeiras subscrições para a construção da atual igreja foram feitas em 30 de setembro de 1877, contribuições de vários fazendeiros locais, dentre eles os barões de São José Del Rei, de Santa Justa (Vassouras – RJ) e de Santa Fé (MG).

O assentamento da pedra fundamental se deu em 1º de agosto de 1880 e em 09 de maio de 1886 foi celebrada a primeira missa no templo, ainda em construção, interrompida um pouco depois em razão da assinatura da lei áurea. Quando as obras foram retomadas o material utilizado para terminar a igreja foi alterado e o sinal está no topo da igreja, onde se pode ver tijolos e não pedras, por ser aqueles mais leves e mais baratos.

O projeto da igreja foi do arquiteto Quintiliano Nery Ribeiro e a obra ficou a cargo do mestre-pedreiro português Manoel Joaquim Rodrigues. Os blocos de pedras eram trazidos pelos escravos, que também ajudavam na construção, por isso o impacto da assinatura da lei áurea na construção do templo.

No interior da igreja, os arcos e colunas também são de pedra. As pinturas e alguns móveis, como o confessionário, são originais. O templo se encontra em restauração, o que causa grande alegria, a preservação da história.

Um anjo enfeita o chafariz. Antes ele ficava no cemitério, mas uma forte chuva quebrou suas asas e, então, ele foi transferido para a igreja.

Só há uma missa, no primeiro domingo de cada mês, as 11 horas da manhã.

Antes da viagem fizemos contato com a Hospedaria e Pousada São José (32) 99987-1980 para nos informarmos sobre a visitação a igreja e fomos orientados a procurar o Sr. Adilson em frente a igreja, mas, quando chegamos lá, ele havia ido almoçar, mas lá estava o Sr. Ângelo que nos permitiu acessar o segundo piso da igreja. A Pousada funciona a partir de sexta-feira às 14 horas até domingo às 16 horas.

Há, ainda, pequenas capelas muito singelas, que abrigam um pequeno altar, construídas para as procissões da Sexta-feira Santa ou Sexta-feira da Paixão.

Aí foi filmado o ‘Menino Maluquinho 2 – A Aventura’, filme brasileiro de 1998. É a continuação de Menino Maluquinho – O Filme, baseado no livro infanto-juvenil do cartunista brasileiro Ziraldo. Nessa nova aventura, Maluquinho passava férias na casa de seu avô Tônico (Stênio Garcia), inventor que mora numa pequena comunidade no interior de Minas Gerais. Seus amigos Junim (Samuel Brandão), Lúcio (Cauã Bernard Souza), Bocão (João Romeu Filho) e Nina (Fernanda Guimarães) chegam a cidade para ajudar Maluquinho a arrumar o circo para o centenário da cidade. Assim eles acabam vivendo muitas aventuras.

A 35 km está Rio das Flores, pequeno município fluminense localizado na região do Vale do Café. Com construções históricas, Rio das Flores se destaca como a cidade com mais casarões preservados do ciclo cafeeiro, muitas cachoeiras, mirantes e trilhas.

Almoçamos na Fazenda União, casarão de 1836, uma das sesmarias de Domingos Custódio Guimarães, o Visconde do Rio Preto, sobre quem falarei mais a frente. O restaurante ‘Na Tulha’ tem um que de sofisticação e uma comida cheia de sabor, lindamente apresentada no prato.

O charme da Fazenda União mora nos inúmeros detalhes. O mobiliário exuberante do período do império revela seu passado glorioso. Tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional, a fazenda funciona como um hotel histórico, possui 24 suítes divididas em cinco categorias: Real, Imperiais, Viscondes, dos Barões, dos Quilombos.

Jerônimo Magalhães é artista plástico e restaurador autodidata e realizou o trabalho de raspagem nas paredes da Fazenda, descobrindo vestígios de pinturas e marmorizados centenários que foram, então, recuperados. Também restaurou a capela da fazenda com técnicas de trompe l’oeil, pinturas que geram ilusão de ótica. A capela é dedicada a São José de Botas e é estonteante. Jerônimo Magalhães (22) 2444-7550

 

Há também um Museu de Arte Sacra com peças belíssimas, na entrada, este texto:

“A imaginária religiosa compreende as representações de Jesus Cristo, da sua Cruz, de Nossa Senhora, dos Santos – mártires, eremitas, doutores, evangelistas, fundadores de ordens, etc. dos anjos, dos mistérios que são venerados e honrados pelos católicos. A imagem é uma representação sensível com forma e suportes materiais e técnicas da realidade invisível, ou seja, do sagrado. Ela apresenta atributos e adereços para explicar uma vocação específica. A concepção da imagem é feita considerando a sua função: imagem de retábulo – do trono e dos nichos – imagem processional, que pode também ficar entronizada em altar – e de conjuntos cenográficos (de presépios, de vias sacras, de Santíssima Trindade, coroando Nossa Senhora) – imagem de oratório de sacristia, doméstico ou de oratório esmoler. Cada modalidade em questão recorre a proporção, forma e materiais adequados ao uso que se presta. Quanto mais próximo ao devoto (imagens processionais e de presépio), a linguagem é naturalista e íntima, dotada de um humanismo comovente. Do ponto de vista da confecção, a imagem pode ser de vulto, ou seja, esculpida de corpo inteiro, ou de roca. Pode ser estática ou articulada, de madeira, marfim, osso, argila, etc. A carnação, estofamento e policromia e a colocação de olhos de vidro era feito pelo pintor. Atributos como coroas, resplendores, palmas, flechas e cruzes eram confeccionadas pelos ourives ou prateiros. Assim sendo, a imaginária requeria o trabalho de vários ofícios, materiais e suprimentos.”

Estrada do Abarracamento km 3,5 – Rio das Flores – RJ / www.fazendauniao.com.br

Daí seguimos para Conservatória.

  • Rio das Flores (RJ) à Conservatória (RJ) 51,1 km em 1h10m via RJ-145, Rodovia Benjamin Lelpo e RJ-143

A escolha de nossa hospedagem recaiu sobre a Pousada Oca Porã, Rodovia Canção do Amor, 13170, bastante exótica. Foi uma opção acertada, os donos da pousada são ótimos anfitriões. (24)99977-6580 / (24) 2438-1561

Entrar em Conservatória pelo Túnel que Chora foi como atravessar um portal para chegar nesse lugar mágico em que nos hospedamos. Cavado pela mão dos escravos para dar passagem à linha férrea inaugurada por D. Pedro II, com 95 m de extensão, 5 m de largura e 3,5 m de altura, todo de pedra, daí foram retirados os cascalhos usados na pavimentação das ruas de pé-de-moleque que compõem a arquitetura de Conservatória. Na parte superior há uma fonte de água, que faz com que brote água das rochas do túnel. (Túnel Maria Komaid Nossar).

Há versões diversas para a cultura seresteira que tornou o vilarejo nacionalmente conhecido. Uns falam de músicos que acompanhavam a Coroa e se apaixonaram pela vila ou namoraram moças locais e aí ficaram tocando nos saraus da época. Outros contam sobre um violinista alemão que criou o hábito de tocar em noites enluaradas e passou a ser acompanhado por outros músicos. Fato é que a data de 30/05 celebra o aniversário do Seresteiro.

A música transpira por todo o vilarejo, serestas, serenatas, matinatas e solaratas acontecem na Travessa Geralda Fonseca (Rua do Lazer), placas nas portas das casas relembram antigas canções de amor; rodas se formam nas ruas relembrando serestas, sambas-canções, chorinhos ou bossa nova; lojas são batizadas com nomes de antigas canções.

Duas datas são especiais – o último sábado de maio, quando se comemora o Dia do Seresteiro; e o último sábado de agosto, quando acontece o Encontro de Seresteiros, com artistas de diversas partes do Brasil.

Foi no antigo Museu da Seresta, que sobreviveu até 2009, que nasceu o projeto ‘Em toda casa uma canção’, que conta com 403 placas com nomes das músicas colocadas nas fachadas das casas, de acordo com o gosto dos moradores e que serviam. de roteiro para as serenatas. A casa foi construída na segunda metade do século XIX como residência e também como ponto de encontro dos seresteiros para afinar os instrumentos e passar algumas músicas para, em seguida, sair cantando pelas ruas e parando nas janelas das residências.

Após nos acomodarmos, uma volta pela cidade.

Cine Centímetro, a sessão única de sábado (19 horas) é concorrida, não conseguimos ingresso, leva à tela musicais americanos dos anos 50 e 60. O espaço, montado no quintal da casa de um apaixonado pela Sétima Arte, é uma réplica reduzida do antigo Cine Metro Tijuca, inaugurado no Rio de Janeiro em 1941 e demolido em 1977. Aberto a visitação, o charme fica por conta dos objetos originais do antigo cinema, como móveis, pedaços de tapete, lustres, bilheteria e projetores. A visitação dura cerca de uma hora e inclui clipes da MGM. O espaço abriga ainda uma pequena loja de souvenir e o Museu Palheta de Projetores de Cinema. Rua José Ferreira Borges, 205 – (24) 2438-1815

Quanto ao comércio mereceu minha atenção a Ma Ju Arte e Decoração, no espaço Vila Antiga.

Caminhando pela cidade …

Antiga Estação Ferroviária, atual rodoviária de Conservatória, onde também funciona um museu.

Locomotiva 206, exemplar que rodou entre 1912 e 1926, tempos áureos do Vale do Café.

 

Encerramos nosso dia no Bistrô do Poeta, Rua Luiz de Almeida Pinto, 66, onde jantamos na companhia de música ao vivo da melhor qualidade, com o músico Marcelo.

  • 11/12/2021 – sábado 

Nosso café da manhã na Pousada confirmou o exotismo do local, vejam só:

Depois de tomar o café da manhã e explorar a decoração do hotel, extravagante mas harmoniosa, estivemos na Cachaçaria do Hotel Vilarejo, entre tonéis de pinga.

Seguindo em direção à Serra da Beleza, passamos pela Ponte dos Arcos, com 10m de extensão e 12m de altura, erguida pelos escravos, que usaram pedra, cal e óleo de baleia. Inaugurada em 1884, no auge do ciclo do café, fazia parte da Estrada de Ferro Santa Isabel, que foi desativada em 1963 e hoje é cenário para corridas de motocross. Cerca de 6 km à frente, o mirante da Serra da Beleza, belo visual das montanhas entre Conservatória e Santa Isabel do Rio Preto. Do alto da Serra já se avista o Estado de Minas Gerais.

Chegando ao mirante da Serra da Beleza, soubemos que ali acontecem reuniões de grupos de estudo de ufologia, estudo das hipóteses, evidências ou registros visuais dos UFOS – Unknown Flying Objects  – Objetos Voadores Não-Identificados. Existem relatos de várias aparições de OVNIs no local.

Segundo pesquisadores de Ufologia, a região detém a maior concentração de areia monazítica do mundo, um tipo de areia com elemento radioativo, e, devido a essa energia radioativa, a Serra da Beleza se tornaria uma espécie que dizem se abastecer dessa energia. Devido a vários relatos sobre avistamento de OVNIs no local, a Serra da Beleza se tornou um local de sérias pesquisas, atraindo aficcionados em fenômenos extraterrestres. O local é inclusive tema do chamado ‘Palco UFO’, que é o mais detalhado e duradouro projeto de investigação ufológica civil que se tem conhecimento em todo o mundo, que vem sendo realizado desde 1982.

No local o Restaurante Mirante da Serra, com acomodações para hospedagem, inclusive, duas que fogem ao padrão, as geodésicas*. (21) 98835-3561 / (21) 98212-3633

  • geodésica, também conhecida por domo geodésico. A base para a construção de um domo geodésico é a face de um icosaedro subdividido em várias partes. Quanto maior for o número de peças fragmentadas em triângulos simétricos, mais redondo e compacto será a cúpula. As cúpulas geodésicas são conhecidas por serem estruturas altamente resistentes e leves, garantindo fácil transporte.

Descemos pela estradinha de terra que nos levou ao mirante e paramos no Restaurante Beleza da Serra, logo na entrada da estradinha. (24) 99288-4001 / (24) 98108-8358  Nesse almoço tivemos uma companhia pra lá de especial de um carrapateiro, cuja presença é cultivada pelo dono do restaurante, que o alimenta.

 

Retornando, paramos na Ponte dos Arcos para mais fotos.

Na Serra da Beleza se encontra o Quilombo São José da Serra, comunidade quilombola mais antiga do Estado do Rio de Janeiro, que abriga cerca de 200 descendentes de escravos, que vieram da região do Congo, Guiné e Angola e que preservam o jongo, ritmo considerado pai do samba.

>>> Estávamos agendados para visitar a Fazenda Flores do Paraízo, em Rio das Flores, às 15 horas. (24) 99859-5727 Simone e Paulo Roberto <<<

Um pouquinho de história: Em 1810 foi feita a doação de uma sesmaria a João Pedro Maynard d’Affonseca e Sá, a qual foi dado o nome de Barra das Flores, nome mais tarde trocado por Loanda, em virtude do elevado número de escravos oriundos daquela região africana. Outra sesmaria da mesma data foi a que recebeu o nome de Flores do Paraízo, concedida ao Padre Manoel Joaquim Nunes Cordeiro, que a negociou com João Pedro Maynard, já que essas terras confrontavam com aquelas.

A Fazenda Flores do Paraízo, com z mesmo, conforme grafia da época, começou a ser construída no ano de 1845 e concluída 8 anos depois, em 1853, considerada modelo em todo o Vale do Paraíba Fluminense e conhecida como  ‘A Joia de Valença’.

Localizada no distrito de Manoel Duarte, em Rio das Flores, pertenceu ao Visconde do Rio Preto, Domingos Custódio Guimarães, e à Baronesa do Rio Preto, Maria Bebiana de Araújo Lima Guimarães, filha do Barão de Pirassununga e neta do Marquês de Olinda, aí nossas ascendências se cruzam.

A mansão, com influência francesa, é imponente, luxuosa e preservada, praticamente intacta, tal como era à época, com as pinturas artísticas originais, os móveis luxuosos e a atmosfera de encanto, primeira casa do Brasil com iluminação a gás.

Segundo os atuais proprietários, o casal de administradores Simone e Paulo Roberto Belfort, cujo bisavô comprou a fazenda da família do Visconde em 1912, nada foi descaracterizado, por isto, proporcionando uma verdadeira volta ao tempo, a começar pelas altíssimas palmeiras-imperiais, que fazem fila na alameda de entrada, verdadeira imponência e ostentação.

Linha do tempo da Fazenda:

  • a Fazenda Flores do Paraízo pertenceu ao Visconde do Rio Preto (1868);
  • passou a um de seus filhos, o 2º Barão do Rio Preto, casado com a filha do Marquês de Bonfim (1876);
  • passando para o filho Domingos (1895);
  • em seguida ao sogro deste, o Barão d’Aliança (1912);
  • vendida ao Major Galileu Belfort Arantes,
  • herdada pela irmã Iolanda
  • e, por fim, passada ao filho e atual proprietário Paulo Roberto Belfort.

O casarão tem 2.220 m², dois andares, 58 cômodos, 99 janelas, uma capela com pé direito duplo, reproduzindo o estilo de vida da nobreza do século XIX, que enriqueceu com o cultivo do café na região.

Há cantaria nas calçadas, nas esquadrias de portas, janelas e rodapés; paredes cobertas de pinturas artísticas, que imitam o mármore ou dão sensação de relevos. Pisos com ladrilhos hidráulicos, mobiliário francês e brasileiro de qualidade, lustres de cristal, papéis de parede diferentes entre si, de acordo com o ambiente, estátuas de bronze, um acervo impressionante.

A casa é dividida em quatro alas, das quais três permanecem abertas à visitação, à exceção da ala íntima, que abriga os atuais proprietários.

Na ala comercial, Domingos Custódio GuimarãesVisconde do Rio Preto – trabalhava em seu gabinete, precedido pelas salas de espera, destinadas a quem vinha até ali para negociar o café, com direito a retratos a óleo de D. Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina. Essa ala térrea tinha, e ainda tem, seis alcovas (quartos simples, sem janelas) onde os comerciantes de fora pernoitavam. Nesse mesmo piso, fica a ala de serviço, composta de despensa, dos quartos de engomar e de costura e da grande copa-cozinha, onde os moradores fazem suas refeições, preparadas no fogão a lenha de bronze escocês, com mais de 150 anos, ainda hoje o único fogão da fazenda.

Subindo as escadas, depois de atravessar o hall de entrada, com seus ladrilhos hidráulicos no piso e estátuas de núbios de bronze, vindas da França, que apoiam luminárias, encontra-se a ala social, formada por um novo hall e salas de estar, entre elas, as curiosas ‘sala das mulheres’ e ‘sala dos homens’, onde se organizam as armas, assim como o salão de banquetes.

A igreja, situada dentro da casa e com pé-direito duplo, tem toques arquitetônicos bizantinos e é dedicada à padroeira Nossa Senhora da Conceição, que recebe um santo de cada lado do altar: São Domingos e Maria das Dores, em homenagem ao Visconde e sua mulher.

Junto à mansão fica o antigo engenho, com a preservada e imponente máquina a vapor, que beneficiava o café vindo de um dos quatro terreiros, dois com piso de pedra e dois de terra batida, em uma máquina norte-americana que veio substituir a mão de obra escrava, de onde saía pronto para ser ensacado.

A vocação produtiva inicial da fazenda mudou do café, extinto na região, para o gado de leite e corte.

Os escravos recebiam assistência médica periódica. Na Fazenda Paraízo havia um consultório médico anexo a uma enfermaria construída ao lado da tulha e uma farmácia, famosa pelo seu luxuoso vasilhame de porcelana importada além da imensa variedade de drogas nacionais e estrangeiras, tudo montado com o máximo de capricho em armários envidraçados, de pinho de riga. A farmácia era tão fartamente suprida que por vezes socorria a Santa Casa de Misericórdia de Valença.

O atendimento religioso também era cuidado por um padre contratado para zelar da capelania da Fazenda, rezando missa, batizando casando, ensinando o catecismo, dando assistência aos moribundos.

O Visconde era um homem amante da cultura. Em sua Fazenda Flores do Paraíso chegou a ter duas bandas de música com 40 a 50 escravos, impecavelmente fardados, portadores de instrumentos musicais afinados, ensaiados por um musicista contratado, José Procópio do Nascimento.

E nesse cenário mergulhamos por algumas poucas horas, contudo, sem poder fotografar.

Os proprietários são gentilíssimos e agradabilíssimos, além de muito bons de conversa, garantindo um excelente mergulho na história.

(fontes: texto de Ellen Jabour e Sérgio Zobaran)

De volta a Conservatória, fomos jantar, desta vez no Restaurante La Serenata, Rua Dr. Luiz de Almeida Pinto, 67. (24) 99257-7873

  • 12/12/2021 – domingo

Dia de voltar com muitas boas lembranças.

 

>>> SOBRE DOMINGOS CUSTÓDIO GUIMARÃES – VISCONDE DO RIO PRETO

Nascido em terras de São João del Rei – MG, em 23/08/1802, na Fazenda da Rocinha, de propriedade de seus pais, na Serra das Carrancas, se radicou em Valença, investindo em propriedades rurais, Fazenda Loanda e Fazenda Flores do Paraízo, adquiridas em 1836, muito ajudando no crescimento da cidade de Valença, o que justificou que a Câmara Municipal de Valença criasse a ‘Comenda Visconde do Rio Preto’, mais alta honraria que o município outorga às personalidades que tenham prestado relevantes serviços à vida socioeconômica e cultural da cidade de Valença. Batizado em 07/09/1802, faleceu no mesmo dia e mês em que nasceu no ano de 1868, sepultado no Cemitério Riachuelo, no Mausoléu da família, em Valença.

Em Valença existe o Instituto Cultural Visconde do Rio Preto, criado em 1990, ou seja, há 31 anos.

Por sua ação empreendedora, em vários campos, quer político, quer econômico, quer social, foi galardoado com o título de Barão e, posteriormente, de Visconde, com Honras de Grandeza, título que lhe conferia o direito de encimar em seu Brasão de Armas a coroa condal.

 

Na Fazenda Flores do Paraízo, construiu um belíssimo palacete, onde se radicou, definitivamente, chegando a construir um grande império com o plantio e o cultivo de café, entre outras atividades agrícolas e de pecuária.

Chegou a adquirir 11 fazendas na região e muitas vezes destinou vultosas somas de seus recursos pessoais em benefício de instituições valencianas.

 

>>> Progresso e Realizações de Domingos Custódio, trecho do capítulo XIII do livro Visconde do Rio Preto Sua Vida, Sua Obra. O Esplendor de Valença. por Rogério da Silva Tjader

“De todas as realizações materiais erigidas pelo Visconde do Rio Preto, nenhuma se sobrepôs à edificação da Fazenda do Paraíso.

Sobre esta propriedade, tem-se a descrição pormenorizada feita por um especialista em assuntos rurais daquela época, apreciador das coisas de valor, segundo Leoni Iório.

‘A Fazenda do Paraíso constituía a joia de Valença, aparentava a placidez de um solar. Dentro resplandecia o luxo no estilo dos mobiliários, na pureza dos cristais e dos espelhos, nos desenhos das finas tapeçarias, na sobriedade dos damascos, nas pratarias lavradas.  Galerias de quadros de imenso valor, museu de raridades, capela (em honra a Nossa Senhora da Conceição), tudo continha a fazenda do Visconde do Rio Preto.

Em uma rua de quatrocentos metros, ladeada por palmeiras imperiais, que se abrem no final em grandioso semi-círculo, encontra-se o palacete, tendo à entrada, para dar acesso ao saguão, uma grande porta ao centro e duas menores ao lado. A escada para o andar superior, depois de alguns degraus, bifurca para direita e para a esquerda. O edifício contém no pavimento inferior, dois salões, de bilhar e de visitas, quatro quartos, escritório, biblioteca, sala de almoço, copa, salão de costuras, capela, várias dependências tais como banheiro, despensa, cozinha. No centro, cascata, gruta, aquário. No sobrado, salão de recepção, sala d’armas, sala de jantar, vasto dormitório, alcova, vinte quartos para hóspedes e banheiros.

O palacete encontra-se isolado entre jardins. Ao lado direito, prédios para o administrador, o boticário, o regente da banda de música, a farmácia e os salões para as enfermarias dos homens e das mulheres, e mais além o quadrado das senzalas.

Ao lado esquerdo, o engenho de café, as tulhas. Em outro quadrado, as moendas e os alambiques, as tachas de açúcar, a marcenaria e a ferraria. Mais adiante, as cocheiras, cobertas para os carros e os galinheiros. Ainda mais longe, o moinho, as cevas, as mangueiras para porcos, os currais, a horta e os pomares, sendo um menor, de frutas escolhidas, e outro maior, de duas quartas de terras, com árvores maiores, tais como jaboticabeiras, jaqueiras, etc.

Um pequeno povoado onde nada faltava.

Em vasto salão anexo ao palacete, velhas mineiras tecem peças de algodão, fazendo roupas para os escravos e colchas de lã para a família, confeccionaram calças e camisas para homens e saias para as mulheres, bonés e camisas para os moleques.

Na oficina de ferreiro, o Félix, com dois auxiliares, faz peças e conserta carruagens, orgulhoso de ter custado dois contos de réis ao seu Senhor; mestre Domingos prepara mobiliário, estilo Luiz XV e Luiz XVI, com jacarandá e cabiúna e também se envaidece por ter sido comprado por três contos de réis. Pelos salões do palacete, retocando, pintando rodapés com fingimentos de mármore, mestre Justino, pequeno, barbicha quase branca, se é questionado em francês, responde na mesma língua, por ter sido discípulo de Debret e reputa-se ser o escravo predileto do Visconde, em razão de ter-lhe custado a exorbitante quantia de quatro contos e quinhentos mil réis. 

Pelo terreiro, de um lado e de outro das fitas de palmeiras, passam os rodos sobre o café. 

Todos se movimentam. E vários ruídos chegam aos ouvidos dos visitantes, dos pilões do engenho, de moinho, os mugidos das vacas, os balidos das ovelhas, os relinchos dos cavalos, os zurros dos jumentos.

Nessa fazenda modelo trabalhavam cerca de quinhentos escravos, responsáveis pela opulência da região valenciana de Santa Tereza.'”

 

>>> De Valença: O povoado de Valença surgiu em 1789, passando, a seguir, à categoria de aldeia. Situado na região sul fluminense entre dois vales de terras férteis e bem irrigadas: o Vale do Rio Preto e o Vale do Rio Paraíba do Sul.

Em 1803, o Padre Manoel Gomes Leal erigiu uma pequena capela que recebeu a invocação de Nossa Senhora da Glória, dando nome também a aldeia de Nossa Senhora da Glória de Valença, em homenagem ao Vice-Rei Dom Fernando José de Portugal e Castro, da Casa do Marques de Valença, de Portugal.

Em 1820, foi iniciada a construção de uma Igreja Matriz, no mesmo local da primitiva capela, que se concluiu em 1871.

Em 1823, a aldeia virou a Vila de Valença e em 1857, a cidade de Valença, destaque no Ciclo do Café da Província fluminense.

Entre 1810 e 1835, foram doadas 215 sesmarias, todas elas viriam a se transformar em fazendas.

 

>>> Da descendência: Em 1723, chegaram ao Rio de Janeiro, vindos da Ilha do Faial, Arquipélago dos Açores, Maria Nunes, viúva de Manoel Gonçalves Corrêa; a filha Antônia da Graça com seu marido Manoel Gonçalves da Fonseca e as filhas Maria Thereza de Jesus e Catarina de São José; além das filhas solteiras Helena Maria da Caridade e Julia Maria da Caridade. As três filhas de Maria Nunes ficaram conhecidas como ‘As Três Ilhoas’.

Julia Maria da Caridade, nascida em 08/02/1707, casou-se aos 17 anos, em 29/06/1724, já no Brasil, com o também ‘ilhéu’ Diogo Garcia, um rico empresário possuidor de uma sesmaria na Serra das Carrancas. Julia Maria da Caridade se destacou em função da numerosíssima descendência ilustre, 14 filhos, origem das famílias Resende, Junqueira, Carvalho, Villela, Garcia e Guimarães, entre outras.

Uma das filhas desse casal, Ana Maria do Nascimento se casou em primeiras núpcias, aos 12 anos, com o português João Pereira de Carvalho, tendo enviuvado sem ter tido filhos e em segundas núpcias com Manoel da Costa e Silva, com quem teve 7 filhos, entre eles: Domingos José Pereira do Amaral que casando-se com Escolástica Theodora de Jesus, em 1780, teve 16 filhos, entre eles:

  • João Baptista Pereira
  • Thereza Maria de Jesus se casou com o Alferes Pedro Custódio Guimarães em 1782 e tiveram 14 filhos, entre eles:

< a filha Cândida Umbelina de São José, que se casou com Joaquim Ignácio de Carvalho, com quem teve entre outros filhos:

<<< Maria das Dores de Carvalho

< o filho Domingos Custódio Guimarães se casou em primeira núpcia com Faustina Xavier Pestana em 1838, não resultando filhos; com Antônia Felícia Maria Mendes com quem teve um filho, Pedro Nolasco da Costa, não reconhecido oficialmente; em segunda núpcias se casou com a prima Maria das Dores de Carvalho com quem viveu até sua morte. Desse casamento nasceram:

>>> Maria Amélia Guimarães (1844-1899) e

>>> Domingos Custódio Guimarães Filho, 2º Barão do Rio Preto (1846-1876), também nascido em São João Del Rei – MG.

. Provedor da Santa Casa de Misericórdia

. Tenente Coronel da Guarda Nacional de Valença no início de 1869

. Moço Fidalgo da Casa Imperial

. 2º Barão do Rio Preto (23/09/1874)

. falecido em 12/11/1876

>>> Houve ainda uma terceira filha legitimada por ele, Maria Custódia Guimarães.

 

A história do Visconde: No Rio, por volta de 1826, Domingos Custódio e João Francisco de Mesquita abriram a bem sucedida Mesquita & Guimarães, de fornecimento de carne.

No Campo de São Cristóvão, 101, residiu Domingos Custódio Guimarães, onde hoje está a Escola Municipal Gonçalves Dias.

Gradativamente mais 11 residências foram adquiridas.

Em 22/04/1838, Domingos se casou com Faustina Xavier Pestana, filha de Francisco Xavier Pestana & de Dionísia Rosa Pestana, mas a esposa veio a falecer pouco tempo depois do casamento.

Domingos viveu com Antônia Felícia Maria Mendes e tiveram um filho Pedro Nolasco da Costa.

Aos 07/08/1843 se casou com a sobrinha Maria das Dores de Carvalho.

Em 1836, Domingos Custódio adquiriu duas fazendas de João Maynard D’Affonseca e Sá.

Nos primeiros anos da década de 1840, foi a vez de adquirir a Fazenda Monta Cavalo, cujo nome foi mudado para Fazenda Aliança.

No final de 1850, foi comprada a Fazenda Santa Bárbara; o Sítio Santa Vitória; o Sítio da Criméria; o Sítio São Leandro; a Fazenda Cachoeira do Bom Sucesso, nome trocado para Santa Teresa, que foi dada de dote por Domingos Custódio ao filho por ocasião do casamento dele com Maria Bibiana de Araújo Guimarães.

Em 1859, adquiriu os sítios Saudades do Rio; Esperança e União, que fundidos formaram a Fazenda União, também feita dote por ocasião do casamento do filho.

Uma nesga de terra da Fazenda de Ubá foi desmembrada, comprada por Domingos Custódio, na virada de 1858 para 1859, trocando-lhe o nome para Santa Genoveva, que dois anos depois foi feita dote por ocasião do casamento da filha Maria Amélia Guimarães com o primo Comendador Domingos Theodoro de Azevedo.

Por volta de 1860, comprou a Fazenda Monte Alverne e logo em seguida comprou os sítios de São Bento; do Coelho; do Retiro; do Açude e do Pinheiro, formando a Fazenda de São Bento.

Nessa mesma ocasião comprou a Fazenda Santa Quitéria.

Na cidade de Valença construiu um belíssimo palacete, em frente à Praça que hoje leva seu nome, onde funciona um Colégio Estadual.

Em pouco tempo chegou a segundo maior produtor de café em toda a Província, perdendo apenas para o município de Campos.

Títulos de Domingos Custódio Guimarães:

  • Tenente Coronel da Guarda Nacional
  • Comendador da Ordem da Rosa
  • Gran Cruz da Ordem de São Bento de Avis
  • Gran Cruz da Ordem da Torre e Espada
  • Comendador da Ordem de Cristo (1847), que sucedeu a Ordem dos Cavaleiros Templários
  • 1º Presidente da Irmandade do Santíssimo Sacramento
  • Barão do Rio Preto (1854)
  • Visconde do Rio Preto, com Honras de Grandeza (1867)
  • Provedor da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Valença
  • Presidente da Câmara Municipal de Valença de 1863 até seu falecimento em 1868, quando a este cabia as funções atualmente exercidas pelo Prefeito Municipal.

 

Fontes:

  1. livro Visconde do Rio Preto – Domingos Custódio Guimarães, o maior benfeitor da Cidade de Valença, por Mario Pellegrini Cupello
  2. livro Visconde do Rio Preto sua vida, sua obra. O Esplendor de Valença, por Rogério da Silva Tjader
  3. livro Fazendas Solares da Região Cafeeira do Brasil Imperial, Editora Nova Fronteira –  Memória Brasileira

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“Com a voz de serenata, cantei pra ti uma canção,

E com o sereno da madrugada roubei-te o coração.”